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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Livro da Vez: Ensaio sobre a cegueira...



Desde que o rádio foi posto de lado pela televisão que, mais recentemente, tem cedido lugar e dividido as honras com outras inovações tecnológicas nos meios de comunicação, passamos de um mundo auditivo para um mundo cada vez mais visual.

Nesse livro, Saramago vai explorar isso. Ele situa o início da narrativa num semáforo. É neste local que a primeira pessoa é acometida por uma espécie de cegueira e fica imersa em uma treva branca. A partir disso, o autor nos fornece materiais para jogar com a nossa imaginação, instintos e intuições humanas.

Não sei dizer ao certo se o texto facilita a empatia com as personagens, mas sei dizer que Saramago situa tudo tudo de maneira clara, com detalhes sugestivos que parecem indicar coisas que vão acontecer antes que elas aconteçam.
Numa tentativa de remediar o caos que se torna a ameaça feita pela treva branca a qual acomete pessoas sem alguma razão conhecida, a única coisa que se sabe é que o contato direto pode ser fatal, levando também à cegueira. Dessa forma as vítimas vão se multiplicando rapidamente. A solução encontrada pelos governantes do país é o isolamento dos cegos econtaminados, uma espécie de quarentena num hospício desativado. É, inicialmente, nesse espaço que se desenrola a tese do autor. E é também nesse espaço que os isolados têm que se organizar à sua maneira, sendo supridos apenas com itens básicos e comida que são racionados, totalmente dependentes dos soldados que os vigiam e são separados deles pelo medo do desconhecido.

Um traço do livro é o fato das personagens não terem nomes, sendo assim diferenciadas por algumas caraterísticas físicas ou por alguma posição em relação a um grupo ou a uma pessoa. Além disso, há algumas das características estilísticas do autor, como os parágrafos longos que, muitas vezes, duram páginas e que contêm discursos diretos dentro dos discursos indiretos, com pontuações limitadas a pontos e vírgulas.

A proposta de um outro mundo não só para ela e para os seus, mas para toda a humanidade é ameaça constante: um mundo que deverá recomeçar a partir do que não se pode ver. (Isso se a ponte com a civilização humana, sua história, invenções etc - que é representada por essa mulher - se romper).
O livro guarda consigo o mistério. Não revela causas ou o motivo de haver uma exceção à regra. Não revela porque apenas uma mulher permanece enxergando o mundo enquanto os demais estão imersos no branco total.

A pergunta é: esse mundo, tal como o conhecemos, sobreviveria sem a visão? Saramago responde claramente: Não. E mais, ele mostra o que o mundo se tornaria se, subitamente, fosse privado dela.
Será que ele defende tudo isso, um mundo totalmente ajustado e focado em apenas um sentido? Ou simplesmente mostra o que está dado, isso com o que concordamos e reproduzimos?
"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara."Eis o convite do autor. Leia e responda a si mesmo.
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Indicado.

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