Páginas

domingo, 8 de julho de 2012

Surto psicodélico


Alíshia ficou quieta para ouvir o som estranho; se concentrou em não respirar por um momento. Não era um barulho qualquer: era um som baixo, mas periódico. Fez silêncio para tentar ouvi-lo novamente. De novo. De novo. Não se conteve, foi até ele. O que causava tal som? Da cama onde estava olhou para o estojo: parecia vir de lá. Rastejou até ele, que estava a 3 palmos de distância e ele foi aberto subitamente. Pensava em surpreender algo. Nada. Voltou ao seu lugar, mas não havia mais som. Sentiu-se como o homem que abriu com a faca a galinha que punha ovos de ouro a fim de encontrá-la toda dourada dentro. Também fizera uma coisa imbecil: cessara o som. Por culpa dela não havia mais ruído algum e não haveria mais.

Da cama fingia olhar a janela à sua frente e com o canto do olho vigiava o estojo. Havia algo ali, ah, havia sim. Hahaha. Havia algo. É, havia azul. Azul em suas unhas, em sua caneta e blusa. Havia azul no estojo também. E eles conversavam e riam. Riam dela!

Sentiu-se incomodada por ser olhada de forma tão insistente por um abusado azul de estojo! Ela ao menos disfarçava olhando a janela, já ele, ele não!, ele a olhava atrevidamente! Que ousadia! Ser olhada assim por um estojo azul que escondia dela o som. Aliás, um estojo azul claro. Que absurdo!

Buscou refúgio nas outras cores. Olhou a caneta vermelha, o mp4 verde, o pen drive prata, o celular preto, mas os sons e as cores estavam contra ela.

Subitamente um ser de azul entrou no quarto, sentou-se na cama, destroçou o estojo. Os outros azuis pararam de rir e, de repente, o som parecia vir de uma camiseta social qualquer. O ser de azul sem nome próprio saiu, tão de repente quanto entrou. As cores pararam de brincar brincadeiras de mau gosto com a garota, as cores começaram a se comportar. Mas Alíshia ainda pode ouvir sussurros medrosos e debochados entre a krocks azul e o prendedor de roupas azul. Raivaaaa! Explodiu tudo.

Não houve mais risos. Nem sussurros. Nem nada.