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quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Sobre não saber lidar e a sensação de eterna bagunça

Reprodução: Pexels

Lembro bem da primeira vez em que me dei conta de que os problemas mais banais da minha rotina podiam ser resolvidos com a ajuda de aplicativos e programas. Eu precisava converter um arquivo de pdf para doc e fiquei pasma - sim, essa é a palavra - quando uma colega disse da forma mais desencanada possível "ah, deve ter algum programa que faz isso". Eu, que já me imaginava digitando aquele texto todo no word, senti que meu mundo se expandia um pouco.

Essa sensação de compreensão súbita é coisa de louco, e foi exatamente o que senti. Anos depois, em uma das aulas da faculdade, eu lembro de sentir algo parecido quando uma professora disse que estava experimentando o Periscope e contando como o Snapchat estava ampliando as formas de comunicação possíveis. Eu fiquei meio "tá bom" já que eu me recusava a experimentar coisas novas e até me orgulhava desse traço da minha personalidade.

Não muito tempo depois eu me toquei do quão grande era o medo que eu sentia de mudar e consegui lidar com isso baixando o Snapchat e começando a usar o Twitter com mais frequência. Foi nessa época que eu decidi dar uma chance ao Evernote para ajudar a organizar minha vida.

Acredito que essas experiências de quase epifania com os aplicativos, programas e redes sociais me fizeram creditar a eles um certo poder que, na verdade, eles não têm. Eu achava que eles resolveriam meus problemas - e em certo ponto, isso é verdade. Mas a partir disso concluir que eu organizaria e controlaria minha vida, sendo mais produtiva, feliz, realizada etc etc, foi bastante precipitado da minha parte justamente porque eu desconsiderei um dos fatores mais importantes para isso tudo dar certo: eu mesma.

Eu preciso ser clara e sincera comigo mesma: por mais que eu tenha me tornado mais aberta ao novo, em termos tecnológicos, não significa que isso tenha me ajudado a lidar com a sensação de eterna bagunça que eu sinto. O problema está no fato dos aplicativos, programas e redes sociais terem contribuído para aumentar essa sensação. Afinal, eu uso tanta coisa ao mesmo tempo que parece que a minha vida está diluída nas redes e isso é horrível.

Antes de me encantar com as redes sociais e enxergar nelas um apoio, eu usava diários e agendas. Não posso negar como é bom e prazeroso fazer um momento remember de 2012, por exemplo, dando uma olhada na agenda e ver que as coisas importantes estão todas ali, juntas, de forma sequencial. Mas, por mais que eu tente fazer isso agora, não funciona mais. Eu me pego "me diluindo" por aí e não entendo mais o que tudo isso significa. Onde estão meus pensamentos? Onde deixei minhas impressões sobre meus dias, acontecimentos importantes? Antes eu teria certeza ao dizer "no blog estão os textos mais pessoais, na agenda os compromissos e a rotina". Mas não é mais assim.

E só me dei conta disso quando estava trocando de celular e pensando em dar o antigo para minha irmã. Na hora lembrei que não poderia dar o celular pra ela naquele dia porque minha vida estava toda no bloco de notas. Então comecei a querer juntar minhas coisas em um único lugar até que, de repente, me dei conta de que sempre faço isso. A diferença é que antes eu separava as folhas, os cartões, post its e reservava um tempo para transcrevê-los e deixá-los em um canto só. Mas agora tudo isso ganhou uma versão tecnológica e, a cada aplicativo que eu descubro, os espaços que eu preciso juntar se tornam mais numerosos.

As vezes sinto que tudo seria mais fácil se eu me decidisse logo por uma coisa só e fosse mais constante. Mas ainda me apego a ideia de que esse é um dos meus traços de personalidade com os quais não consigo lidar

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Da vez em que enfureci palmeirenses no Twitter


Tem coisas que acontecem na vida da gente e que não dá pra prever. Você é pego totalmente desprevenido, não acredita no que fez e esboça aquela leve enrugada na testa pensando "isso aconteceu mesmo?". É louco quando algo acontece e não estamos preparados.

Mas tem outra categoria de coisas que acontecem e que, embora você não saiba como, você meio que "sabia". É aquele breve momento de distração em que você se vê fazendo algo que, pra você, está super certo. Mas - e é claro que há um mas - quando cai a ficha de que você estava fazendo bosta, você consegue lembrar perfeitamente dos sinais sutis que a vida te enviou, todos eles ignorados, e que culminaram em um daqueles erros que poderiam ser evitados. É nessa segunda categoria que se encaixa o que eu vou contar agora.

O cenário era do novo ambiente de trabalho. O tempo era de menos de 1 mês lá - eu diria duas semanas, talvez. Estava eu responsável pelo Twitter. Só de pensar que eu postaria coisas ali, numa conta cheia de seguidores e daquelas onde as pessoas respondem na hora, já senti certos calafrios. Mas ok, os dias foram passando e eu ganhei a famigerada confiança - porque, convenhamos, esse tipo de erro que se encaixa na categoria 2 precisa de uma certa dose desse sentimento.

E lá fui. Confiante. Toda manjada nos 140 caracteres, eita que ninguém me segura. Até que surge uma notícia de futebol. A tragédia já estava montada desde aí, mas é aquela coisa de captar os sinais. Deixei passar.

Twitter, vocês sabem, tem aquela coisa de fazer caber. A gente muda aqui, abrevia ali. O site de sinônimo vira seu amigo na hora de substituir a palavra por outra mais curta e assim vamos levando a vida. Mas tem horas que site de sinônimo algum te salva. E essa hora chegou pra mim naquela fatídica tarde.

A notícia era sobre o Palmeiras. Arrumei o título com o básico muda aqui, mexe ali, e quando coloquei o link da matéria o texto ultrapassou os 140 caracteres. Sagazmente, tive a brilhante ideia de substituir "Palmeiras" por um sinônimo. Dias antes eu tinha visto uma jornalista mudar Corinthians por Timão pra fazer caber e vi que tava liberado alterar. Se a tragédia já tava montada, foi aí que eu marquei de vez presença no show. Troquei e coube. Fiquei feliz pacas e tuitei.

Eu senti uma certa sensação de "há algo de podre no reino da Dinamarca", mas olhei o post, não identifiquei a coisa estranha que havia ali e segui a vida. Afinal, eu tinha outras matérias pra postar.

Menos de 5 minutos depois o telefone toca e a jornalista que me supervisionava atendeu. Nessa hora eu senti algo estranho digamos e logo pensei na troca que fiz na chamada do Palmeiras. Esse pensamento foi meio que instintivo. Ela virou pra mim e olhou com aquela leve ruga na testa, de quem não pode prever o que tava acontecendo. Como eu constatei depois, naqueles 5 minutos, brotaram palmeirenses pra xingar de tudo quanto é nome a pessoa que tinha escrito aquele tuíte - no caso euzinha. E foram tantas reações que alguém de postos altos da firma notou o balacobaco no Twitter e ligou pra perguntar "oquequeéissonoTwitter????"

Depois disso, me lembro de ter que apagar o post e ser questionada por rostos descrentes do motivo que me levou a chamar o Palmeiras de Peixe. Nem eu soube explicar. Um lapso daqueles doidos, talvez? Mas eu ainda acho que tenha sido o "P" porque meu cérebro tem dessas. 

Todo mundo foi muito solícito e nunca na minha vida recebi tanta dica de futebol. Me disseram pra pedir ajuda nesses posts e que eu não precisava me preocupar porque erros aconteciam. Isso não me impediu de ficar super envergonhada. Quem chama Palmeiras de Peixe?????? 

Só depois quando eu disse que estava nervosa e que quando fico nervosa me dá uma vontade insana de rir é que uma das jornalistas disse pra eu relaxar e só tentar não errar com futebol porque o povo não perdoa.

Hoje sou um gato escaldado quando o assunto é futebol. Checo tantas vezes que acho que já virou uma nova espécie de TOC que os cientistas precisam estudar. E quanto aos palmeirense, esse episódio me fez conhecer uma nova faceta deles. O pior é que, embora eu torça pro São Paulo - porque herdei o time do meu pai - a verdade é que sou a maior fã do hino do Palmeiras hahaha. Adoro o "Quando surge Alviverde imponente...". Na verdade, é o único hino que sei cantar direito.

terça-feira, 16 de maio de 2017

20 fatos totalmente aleatórios sobre mim


De repente bateu uma vontade de fazer listas e resolvi me expor na internet hahaha. Vamos lá pagar um mico com a famigerada lista dos 20 fatos aleatórios sobre mim:

1 - Torço secretamente às vezes nem tão secretamente assim pelo fim da era do Facebook

2 - Minha cor preferida passa por diferentes tons de azul

3 - O dia em que fiquei acordada até mais tarde na minha vida foi quando tive que arrumar as caixas da mudança

4 - Tentei em vão manter um bullet journal decente, mas o ano nem acabou e eu já vejo essa batalha como perdida

5 - Tenho mania de fazer listas ou essa é uma mania da minha geração? e já tive perfil numa rede social de listas!! Detalhe: eu gostava pacas

6 - Já quis ser antropóloga

7 - Ainda hoje eu tento achar o vídeo das Lesmas de Arroto (entendedores entenderão), mas não acho. Se você tiver, faz o favor de ser do bem e compartilhar

8 - Sou PhD em procrastinar e viciada na adrenalina de entregar os trabalhos da faculdade em cima da hora

9 - Tentei ser redatora freelancer algumas vezes, mas sofria de arrependimento toda vez que tentava negociar um valor justo - porque na sociedade, aparentemente, redatores vivem dilemas similares aos pessoal da arte. #TáPhoda

10 - Sou caiçara, mas não sei nadar, nem surfar e fico vermelha quando tomo sol

11 - No Ensino Fundamental, eu me surpreendi quando a diretora me elogiou numa reunião da sala e me entregou um certificado de aluna destaque da turma

12 - Na época da escola eu fazia o estilo fundão ft nerd, adorava matemática e português e vivia atrasando a devolução dos livros na biblioteca

13 - Uma vez eu andei de banca em banca procurando figurinha pra completar meu antigo álbum de Harry Potter e o Cálice de Fogo

14 - Já tentei manter uma correspondência por carta com uma amiga e não conseguimos cumprir nem a primeira tentativa (meses depois eu acabei entregando as cartas pessoalmente pra ela)

15 - Por outro lado, mantive por meses (ou foram anos?) uma correspondência virtual com a minha tia. Trocávamos e-mail regularmente e eu adorava ler as respostas dela

16 - Sou fã do Belchior e da Laura Pausini

17 - Ultimamente estou viciada em sebos

18 - Fui no karaokê com uns amigos e cantei Metamorfose Ambulante me senti tipo no The Voice

19 - Gosto de Netflix, mas vivo num mundo paralelo e por isso nem tento me render a esse mundaréu de séries novas. Vejo as que eu gosto e, quando algo novo chama minha atenção, eu coloco numa lista  pra ver quando os fatores vontade e tempo livre se encontrarem

20 - Já tentei fazer um clube do livro com os amigos. Não deu certo por motivo de desistência deles digo mesmo, por mim tava lá firme e forte. tenho até a lista, que ódio

***

E se você algum dia quem sabe talvez ler esse post e sentir aquela vontade marota de compartilhar algo estranho sobre você , fique a vontade. Os fatos aleatórios costumam ser os melhores.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Sobre ser ousada feat corajosa e fazer jus ao meu nome

Parte de mim insiste para que eu comece dizendo que estou numa enrascada, embora muitas pessoas possam discordar de mim e me dizer que não, eu não estou em enrascada nenhuma e que esse é mais um daqueles episódios da vida sobre oportunidades que surgem. Se você é das pessoas que prefere ver as coisas através desse prisma, então vamos lá: a minha oportunidade surgiu.

Tudo começou quando, por um motivo aleatório, precisaram mudar as coisas de uma das jornalistas lá do trabalho para outra mesa. Estagiária que sou, me ofereci pra ajudar. Mas aí é que tá a graça da vida: era pra ajudar a carregar livros. Minha vontade era de dizer: sai, ninguém toca! Deixem que eu levo todos - mas eu me conformei a levar a minha humilde pilha de livros sem causa embaraços que comprometessem minha quase recente trajetória na profissão.

Foi aí, quando permiti que o autocontrole pairasse sobre mim, que algo inusitado aconteceu. Parei perto da nova mesa da jornalista e, de repente, não mais que de repente, qual o livro que estava logo de cara na pilha que já tinha sido levada pra mesa nova? Qual? Qual? 

O próprio. Um gato chamado Borges. Eu posso ouvir um miau?

Aí, você me pergunta:

- Andressa, mais suas pernas tremeram? 
- Sim, elas bambearam, não vou negar - eu te respondo. 

Daí você insiste:

- Ficou parecendo que o universo conspirou para esse momento, para que as coisas fossem mudadas de mesa JUSTAMENTE no seu horário?
- Aham!!!!, concordo eu enfaticamente.

Mas a vida, essa engraçadinha, não deixou as coincidências ficarem por aí, não. E é nessa parte que o título deste post vai começar a fazer sentido. Afinal, se você não sabe, Andressa quer dizer corajosa e eu não vou mentir que risos ocasionais me veem aos lábios enquanto eu relembro cenas em que eu grito de medo por causa de baratas que aparecem do nada. Porém, entretanto, ademais, quando eu vi o livro, eu abri mão da minha atitude de decoro que seria algo como: ENTRA EM CENA/- Aqui estão os livros/ SAI DE CENA. Nã nã não. Eu emendei um: Nossa!Nãoacreditoquevocêtemesselivro!Vocêjáleu?Oqueachou?ViresenhasSUPERBOAS!Queromuitoler! E assim, mais de repente do que o de repente anterior, eu estava com o livro nas mãos para ler e a responsabilidade de resenhá-lo para o jornal. 

Nessas horas , não cabem palavras. Deixemos emojis raiz falarem por mim:

\o/
 ¯\_(ツ)_/¯

Eu nem devia estar aqui esbanjando felicidade por algo que provavelmente não vai ser publicado. Mas só de ler o Gato, já estou feliz demais. Tô nas páginas finais e vou produzir a resenha - baita frio na barriga, apesar de eu já ter feito algumas bem bobinhas aqui no blog. 

E, não vou negar: minha impulsividade, apesar de ter me surpreendido, me deixou feliz de ter a oportunidade de honrar meu nome. Tô sentido que não é hora de decepcionar e trechos de Me adora ecoam na minha mente.


Agora é torcer pra que esse sonho tão sonhado se torne realidade perdoem o clichê

quarta-feira, 10 de maio de 2017

4 ON 4 - Maternidade como tudo aquilo que ganha vida em nós

Essa edição foi tensa: vamos começar por esse ponto. Bomba lançada, que conste nos altos que o desafio desse mês fez jus ao nome. Foi "desafioso", o bonito.

Os percalços no caminho existiram, óbvio, e depois dessa tripulação ter perdido uma das suas integrantes, optamos por mudar a data da postagem desse mês pro dia 10. Agora somos um 4 ON 4, mas nem por isso menos interessante. Continuamos no barco remando pra vocês admirarem esses rebentos paridos que são nossos posts nesse projeto.

O tema das nossas fotos-filhas de maio é tchan tchan tachan tchan: "maternidade". (Eu juro que não tento ser óbvia, mas meus trocadilhos são mal feitos mesmo). E é claro que eu pensei logo de cara: é dessa vez que eu vou dar pra trás. Mas não, o destino mexeu seus pauzinhos. Eu estava pensando que não ia rolar porque maternidade não é uma coisa que está na minha rotina ultimamente. Mas aí comecei a pensar no sentindo mais amplo do termo e me surpreendi ao perceber o quanto eu estava enganada.

Acho que o resultado ficou interessante.

Mas antes,

Visite as blogueiras do projeto

E eis aqui as minhas filhas:

a foto de um convite de chá de bebê, que mostra como a maternidade começa na preparação

a foto uma série que fala sobre a relação entre mãe e filha (e que é uma das minhas favoritas)

a foto (de uma foto) da bailarina Isadora Duncan e seus filhos que está na biografia dela

a foto um quadro pintado por moi e que mostra como nossos "filhos" podem nascer em outros formas - além da humana

***

Isso é tudo por hoje. Foi difícil, mas deu certo no fim e isso é o que importa. Que venham os novos desafios mentira, podem demorar.

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Para lembrar Belchior

Belchior | Divulgação

Abril não poderia ter acabado de um jeito pior. Depois da notícia da morte daquele que se tornou meu cantor preferido, eu constatei que, definitivamente, vestígios de 2016 ainda pairam no ar. Belchior se foi. A tragédia maior que poderia acontecer ficou mesmo para o quarto mês do ano que prometia ser melhor. 

Não posso reivindicar meu lugar de fã número 1, até porque nem sequer cheguei a ouvir todas as suas composições. Acontece que música, pra mim, tem que ser levada no ritmo de um bom livro: nem sempre dá para digerir às pressas. E eu ainda não digeri as letras de Belchior. Cada uma delas ficava semanas, meses rodando na minha cabeça e elas sempre fizeram um sentido além do comum desde quando eu as ouvia pela primeira vez.

Eu gosto de Chico, Caetano e outros nomes da MPB que se solidificaram com um trabalho construído na época da ditadura, mas Belchior sempre veio antes e eu nem sei bem explicar o motivo. Talvez seja porque a minha história com esse cantor foi pautada na descoberta - mas isso é uma hipótese.

Nas minhas famigeradas aulas de literatura no ensino médio, certo dia me deparei com o poema "A palo seco", do João Cabral de Melo Neto. Em um box constava a relação do poema com a música homônima e, foi assim, desprevenida, que eu entrei nessa estrada sem volta.

Lembro que, ao chegar em casa, eu procurei a música no YouTube e escrevi a letra em uma folha de caderno. Tudo porque a professora de literatura fez um comentário que me instigou a conhecer essa música, e também o cantor. Com a letra anotada, eu fui relembrando a melodia recentemente ouvida enquanto ia pro trabalho. Naquela época tecnologias que envolviam músicas em celulares e afins ainda não faziam parte da minha vida.


"Se você vier me perguntar por onde andei
No tempo em que você sonhava
De olhos abertos, lhe direi
Amigo, eu me desesperava..."

A letra me pegou.  A música me pegou. Eu a repeti por dias seguidos no YouTube, baixei pelo falecido aTube Catcher e ainda hoje tenho esse download em mp3 comigo aonde quer que eu vá.

Eu não lembro qual foi a segunda música do Belchior que eu ouvi, mas sei que naquele ano de 2010 eu escutava muuuuito Memórias a respeito de John, Como nossos pais, Apenas um rapaz latinoamericano e Velha roupa colorida. E nossa! como eu discordava totalmente de Velha roupa colorida. Como assim "o passado é uma roupa que não nos serve mais"?, perguntava indignada a Andressa de 17 anos. Porque eu tinha mil teorias de como o passado seria um aprendizado, que serviria como guia para nortear as vidas para longe dos erros cometidos. Hahahahahaha. Hoje eu entendo tanto essa música que ela é uma das minhas preferidas. (E, por mais que eu admire Elis, odeio essa música na versão "imortalizada" por ela. Desculpa, mundo).


"Você não sente não vê
Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança em breve vai acontecer
O que há algum tempo era jovem novo, hoje é antigo
E precisamos todos rejuvenescer..."

Depois vieram outras e todas elas sempre me fizeram querer, um dia, conhecer esse cantor (Divina comédia humana, Tudo outra vez, Coração selvagem, Alucinação, Pequeno mapa do tempo, Medo de avião, Balada de Madame Frigidaire, Brasileiramente linda, Na hora do almoço, Quinhentos anos de quê?, Esquadros, Os profissionais, Sujeito de sorte, Jornal bues, Voz da América e Galos, noites e quintais).

Eu queria conhecer o Belchior, mas não pra ir num show, pegar autógrafo e essas coisas. O que eu queria era uma oportunidade pra, sei lá, encontrar com ele e dizer: "Nossa, admiro demais o seu trabalho, as suas músicas. Elas fazem sentido pra mim de um jeito que eu nem sei explicar".

Quando o jornalismo entrou na minha vida e os amigos começaram a falar de seus sonhos na profissão, eu pensava que se um dia eu pudesse entrevistar o Belchior, eu me sentiria realizada e esse seria uma espécie de marco que eu levaria pra sempre comigo. E nem precisava ser para algum veículo específico. Que fosse uma entrevista pra eu publicar na agência de notícias da faculdade ou nesse blog mesmo hahaha. Mas acho que se um dia isso pudesse acontecer, eu não teria a compostura que a profissão exige em situações como essa.

E é assim, sem possibilidades, que estamos todos nós que admiramos esse cantor. Fui achar um conforto lá no instagram.com/voltabelchior e me senti compreendida. Encontrei tanta gente e foi bom demais ler os comentários de quem admira as músicas dele.

O que me consola é saber que ainda há muito de Belchior por aqui, para ser ouvido e apreciado. Nesses últimos meses eu descobri uma outra música que me cativou de um jeito louco: Paralelas. Eu já conhecia, mas nunca tinha parado para ouvir com atenção. E, agora, ela não sai de mim.


"Como é perversa a juventude do meu coração
Que só entende o que é cruel,
o que é paixão..."

Como deixar ir assim um dos, literalmente, maiores nomes da MPB? Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes. Esse nome, de tão grande, parece até nome de gente da realeza. Como deixar partir um dos únicos que abriu mão da sedução que é ser idolatrado para fazer um alerta a todos: "Não me sigam, porque eu também estou perdido"? Esse alerta que faz tanto sentido em tempos como os nossos.

Por mais que o momento seja propício, ainda não estou pronta para ouvir Arte final. Meu adeus vai ser bem assim, aos poucos. E, talvez, ele nunca seja um "adeus" de fato, e sim um eterno "até logo". 

quarta-feira, 5 de abril de 2017

5 ON 5 | Detalhes pra observar no dia-a-dia

Se eu confessar pra vocês que foram detalhes que quase impediram esse post, vocês acreditariam? Um carregador que sempre está na bolsa é esquecido em casa. Um celular que passa as madrugadas na tomada carregando, justamente neste dia não foi carregado. Uma garota que acorda adoentada, mas que tem mil coisas pra fazer na faculdade e não pode faltar. E lá na faculdade, entre espirros e indicações de que o celular está descarregando, ela percebe que não há ninguém que possa emprestar um cabo USB. E quando, enfim, alguém empresta, ela está no meio do projeto de uma iniciação cienteífica que tem que ficar pronta de qualquer jeito.

Pois é, tudo isso culminou neste dia 5. Enquantos muitos esperam pela alegria do pagamento sendo depositado em suas contas bancárias, esta pessoa que vos escreve teve que fazer malabarismo e juntar o resto de coragem pra parar e escrever esse post-desabafo. 

Mas o que é a vida se não uma junção de detalhes, não é mesmo? 

Agora, indo direto ao ponto: como eu havia escrito no post anterior, entrei nesse  5 ON 5. Quatro blogueiras e eu embarcamos nesse desafio fotográfico e o tema, se ainda não ficou muito óbvio, não poderia ser outro senão DETALHES. Vamos conferir, minha gente, que as fotos estão só sucesso.

Visite as blogueiras do projeto: 

E veja as fotos que eu tirei para o orgulho ou desepero dos professores que dedicaram 1 ano de suas vidas para me ajudar nessa arte que é fotografar

o registro de um restinho de sol batendo na minha cama

uma planta tímida disputando atenção com o trem

a estampa de um lápis que ganhei no aniversário de outra pessoa

as calçadas de Sampa mostrando como é bom olhar pro chão, às vezes

o verde brigando com o concreto que me faz lembrar Drummond

domingo, 2 de abril de 2017

Expectativa vs. Realidade


Hoje eu tenho realmente muita coisa pra fazer. Mas com hoje eu não quero dizer apenas hoje, quero dizer nessas últimas semanas e nas próximas.

Geralmente as minhas coisas se separam eu duas colunas:
A - aquelas que eu quero fazer (lista enorme)
B - aquelas que eu realmente faço (nessa lista ficam as coisas mais essenciais e básicas)

Entretanto, nesse mês de março notei que fiz algumas daquelas coisas que nunca eram executadas e que há meses estavam na lista A. Eis a razão de ser deste post.

Se eu estou feliz? Digamos que sim. A felicidade não é completa porque ainda tenho coisas essenciais que precisam ser finalizadas - então estou naquela fase em que eu acordo ansiosa por conta das horas que perdi dormindo. Acontece. Coisa normal da vida. Mas vamos dar uma pausa nesse turbilhão e comemorar os feitos - e os não feitos também, até porque se eles fossem feitos as implicações futuras poderiam afetar esse balé coreografado que foi minha rotina de março. Bora pro balanço

YES, WE CAN: A fase da empolgação

Bullet Journal
Eu quis fazer muitas coisas em março. E uma delas foi manter o bullet journal como um bullet journal deve ser. Esse nível não foi alcançado, so sorry. Temos justificativa? Temos, e é: eu tenho o hábito de separar 'dias' pra mexer no bujo. Não consigo ser essa pessoa organizada que planeja a semana, o dia etc. Comigo há épocas em que eu planejo o semestre ou então sumo e faço listas no celular, papel de pão, anotações na mão e depois junto tudo pra repassar pro bujo. Tô errada? Ok, tô. Mas meu jeito de ser já é errado e não dá pra fazer milagre.

Eventos
Em março eu também quis ser uma pessoa mais social, digamos. Marquei os eventinhos que eu queria ir, tudo cult, intelectual, acadêmico, porque, né, se é pra sonhar que o sonho seja alto. Fui em algum deles? Não fui, mas tenho justificativas. Nos dias em que aconteceram os eventos que eu queria ir, eu estava multiplicando as horas pra poder entregar as coisas da faculdade, ler os textos e tudo o mais. Daí, é aquela velha história da balança: se vale mais ser uma pessoa com vida social ou aquela acadêmica que entrega as coisas, lê os textos e vai às aulas. 

Coral
Esse é um daqueles itens que desde o começo a gente sabe que não vai rolar. Não que não haja voz, há voz. Poderíamos estar aí com carreira internacional que nem a Anitta - ou não, porque a Anitta marca presença nas redes sociais, dá show, faz festa temática. Ok, poderíamos estar aí encantando os amigos com a nossa voz. Mas é aquela velha questão do foco. Estar no coral foge totalmente do que eu quero agora, embora estar lá talvez fosse legal.

Idiomas
Esse mês estava marcado como aquele em que eu daria um up no italiano, mas não rolou. Não rolou por motivos que envolvem o comprometimento integral do sábado. E como eu planejo comprometer o dia do descanso com outras atividades, não deu pra radicalizar nesse ponto. Mas espero que esse up aconteça ainda nesse semestre.

MALFEITO FEITO: Bem ou mal, finalizamos

Fragmentado
O que dizer desse filme que eu vi na data de estreia sentada entre dois casais? Vamos começar dizendo que eu toparia pagar pra ver de novo, mas que isso não vai acontecer por motivos de agenda comprometida. Ele foi o primeiro filme que me levou ao bloco de notas para anotar as impressões. Estou recomendando pra todo mundo.

Textos
Havia duas anotações que se repetiam na minha lista 'to do' desde dezembro do ano passado. E me orgulho de anunciar que ambas foram cumpridas com sucesso em março, esse mês que eu aprendi a amar. A primeira anotação era referente à Revista Pólen e eu consegui enviar o texto 5 dias antes do prazo terminar (leia aqui essa belezinha). A segunda era sobre o Foca na Imprensa, do Portal Imprensa. Consegui enviar o texto 1 hora antes do prazo terminar, mas o que vale é  o envio em si, certo? Sem link ainda, mas vamos torcer.

Livros - lidos e comprados
Em março eu desacelerei um pouco o ritmo da leitura e consegui finalizar apenas três livros: Os crimes do ABC, da Agatha Christie; Crônica de uma morte anunciada, do Gabo; e As mil e uma noites (em outro post falo mais desse projeto e dos oito livros que compõem a coleção). Já na relação de comprados eu me perdi totalmente. Comprei muito livro no sebo. Vou elencar aqui os que eu lembrar agora porque eles estão espalhados pela casa: Mrs. Dalloway, da Virginia Woolf; 1Q84 vol 2, do Haruki Murakami; Biografia do Saramago; Seis personagens à procura de autor, do Pirandello; As filhas da Princesa, da Jean Sasson; e Cuca Fundida, do Woody Allen. Acho que é isso.

NÓIS TRUPICA, MAS NÃO CAI: Bota fé que vai

Iniciação Científica
Estamos naquela fase de pré-projeto, o prazo batendo na porta, os professores que a gente não encontra na faculdade, mas tudo está indo. Temos prazo, apesar de pouco, e fé.

Repórter do Futuro
Passei meses entrando religiosamente no site da Câmara, no da Abraji e do Oboré pra não perder o prazo. Se eu soubesse que uma alma boa e caridosa mandaria um aviso por e-mail, talvez esses meses passados tivessem sido vividos com mais paz de espírito. Agora é esperar pra ver se rola de passar pelo crivo.

Curso inspirado em Black Mirror
Perdi o prazo das inscrições, mas vi que vai rolar transmissão ao vivo pelo Facebook. Tomara que role de eu ver nessa leva do online. (Interessados em saber do que se trata, favor clicar no link. Adianto que é legal tanto pra quem é de comunicação quanto pra quem curtiu ver o seriado).

Projeto 5 on 5
Quando vi o convite em um dos grupos que eu participo no Face, eu logo me empolguei. Não sabia bem como era, mas a Vitória Bruscato do Cheiro de Pipoca explicou e a animação só fez aumentar. Ela, eu e mais três blogueiras vamos postar novidades nesse dia 05. Aguardem (hahaha aquelas, fazendo a misteriosa).

Séries
Retomei Gilmore Girls e é com orgulho que informo que estou na sexta temporada. Cada vez mais perto pra ver o revival, yep. Espero que no futuro eu me atualize em Grey's Anatomy (parei na décima temporada) e Glee (nem lembro mais, Netflix é que sabe). [Gente, o que eu tenho com série com a letra "G"? A única que terminei até hoje foi Gossip Girl. Pasma!]. Enfim, se a vida colaborar, espero começar Mad Men e, quem sabe, tomar vergonha na cara pra comprar um DVD e o box de Big Love - já que não existe na internet rastro dessa série. E cá entre nós, às vezes me pego pensando em ver The Twilight Zone...

ISSO É TUDO, PESSOAL

E hoje ficamos por aqui. Mais de 1 hora digitando como se eu não tivesse nada pra fazer - o que é um engano. Agora que caiu minha ficha que hoje é 2 de abril. Ainda bem que não postei ontem porque pirigava do post perder a credibilidade.

Pra terminar, não esqueçam que dia 31 de março completamos 53 anos do golpe militar. Fiquem ligados na programação do Memorial da Resistência pra refletir sobre esse acontecimento na nossa história.

terça-feira, 14 de março de 2017

Diários, blogs e fendas no tempo

Ontem estava conversando com meus amigos sobre diários. Acabei contando, meio por cima, que "perdi" os que escrevi na adolescência na época em que fui morar na Baixada. Meus pais acabaram jogando fora e esse trauma me rendeu alguns poemas com palavras como "sem passado" incluídas entre os versos. Era assim que eu me sentia. E enquanto eu falava dessa minha relação com os diários físicos, acabei lembrando que esse blog funcionou, de certa forma, como uma espécie de diário para mim por todos esses anos. De certa forma, este blog e eu atravessamos fases juntos - sob diferentes nomes, é claro. Este blog foi o confidente dos meus textos mais mal escritos e poemas rimados sem nexo. Mas independentemente dessa cumplicidade que vivemos durante anos sem eu me dar conta, se eu pudesse reaver aquelas folhas que eu pacientemente redigi por anos com as histórias vividas por mim mesma, eu com certeza faria isso.

Estava tranquila imersa nesses pensamentos de saudades do meu passado, quando cheguei hoje na faculdade. Fui atualizar o Linkedin e acabei vendo uma lista de pessoas na sugestão pra adicionar. Aparentemente, todos os e-mails mais esquisitos que representavam pessoas participantes do meu passado estavam ali. E essa rede social - a mais imprópria para listá-los - estava me oferecendo conexões com "pessoas que talvez você conheça". Que ironia, é claro que eu as conheço. Saberia o Linkedin que eu as conheço muito melhor do que ele poderia imaginar, caso fosse um ser humano com capacidade imaginativa? Não, não saberia. Sobre algumas delas eu escrevi incessantemente nos meus falecidos diários.

Essa nostalgia provocada por essa possibilidade que jamais se concretizará me fez lembrar do famigerado Orkut. Comecei a divagar sobre como seria ter essa rede social de volta e o quanto eu a queria bem mais que qualquer outra, até que percebi que não é o Orkut que eu queria. O que eu queria era o passado de volta. E o passado, diz a lógica, não está no rol de possibilidades futurísticas. O Orkut acabou simbolizando algo, representando uma fase da minha vida. E, como cantava Belchior, "o passado é uma roupa que não nos serve mais". Eu que discordei desse trecho - e dessa música - durante anos, hoje me rendo a essa fatalidade: o passado é algo que fica lá atrás e que nunca mais estará ao nosso alcance.

Por causa dessa certeza da inevitabilidade do tempo em passar, comecei a sentir saudades das coisas que ainda tenho comigo, como os amigos da faculdade com quem estava conversando ontem. E por mais que ainda tenhamos dois longos anos pela frente, fico pensando que eles vão passar na minha vida assim como muitas outras amizades queridas passaram. Eu as queria a todas, mas a vida me mostrou que não se pode vencer o tempo. Isso me deixou tão triste que eu comecei a pensar mais e mais nos meus diários perdidos e em como aqui, nesse espaçozinho virtual, eu consegui criar uma espécie de fenda no tempo.

Não sei quando eu vou me desfazer disso aqui, se é que um dia irei. Sim, há vezes em que eu simplesmente não quero dar as caras aqui. Mas há outras vezes em que eu simplesmente agradeço a seja lá quem for o ser humano desse universo que teve essa ideia de criar essa rede social. Ela preserva minha sanidade e me faz um bem que não sei nem descrever.

segunda-feira, 6 de março de 2017

Definir ela dá uma música - e das boas

Se eu disser que eu rascunhei uma introdução decente pra esse post, mas ela simplesmente se negou a sair decente, você acreditaria? Olha que tenho provas.

Então, vamos começar esse post assim no seco, sem muitas palavras que denunciem a instabilidade do meu raciocínio lógico, ok? Depois do combinado, me resta dizer que criei uma playlist que, por acaso do destino, pode vir a calhar nesse 8 de março. A proposta era reunir músicas que definissem mulheres.

De verdade, essas letras que se dedicam a falar da personalidade das mulheres e de como essas peculiaridades femininas são percebidas pelos outros sempre me interessaram. De certa forma, essas músicas já estavam reunidas na minha cabeça e, pra mim, uma sempre "chamou" a outra. Por isso, resolvi juntar todas aqui e deixar você: 1. ver se elas realmente fazem sentido e 2. refletir sobre essas personalidades femininas que estão nas linhas e nas entrelinhas.


Mais sobre a criação dessa playlist

Primeiro eu quis juntar aquelas músicas que definiam as mulheres do ponto de vista de terceiros. Meio que algo como Bentinho definindo Capitu, sabe? Não sabemos ao certo que é essa figura, mas o que temos é o suficiente para nos intrigar. Nessa etapa da seleção, essas mulheres que aparecem nas letras são vistas e apresentadas de acordo com o olhar do outro. Nós não as conhecemos diretamente, mas as imaginamos. Por isso, nessas primeiras músicas eu priorizei aquelas que tivessem o termo "ela" ou "she".

Depois, acabei mesclando outras músicas com nomes próprios femininos que, em alguma parte da letra vão montando essa imagem de mulher que dá nome à música.

Por fim, peguei canções sobre mulheres se definindo ou definindo outras mulheres.

E essa gama de músicas de diferentes ritmos, cantores e popularidade está aí reunida pra você ouvir e pensar nessas mulheres de personalidades marcantes, envolventes e instigantes que nos rodeiam diariamente. Aproveite o som e as letras, é claro.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Aquele feriado que você não faz questão

Ah, é Carnaval? Legal.

Se tem um feriado curtível que eu nunca fiz questão de curtir, esse é o Carnaval. Claro, tem aqueles que eu simplesmente confundo - caso clássico de 7 de setembro e 15 de novembro. Não me pergunte o motivo, são coisas inexplicáveis da vida.

Eu poderia fazer uns parágrafos pra justificar que isso é consequência de uma criação cristã e etc. Mas a verdade é que, mesmo quando eu tive "idade suficiente" pra fazer minhas próprias escolhas sem levar em consideração os argumentos maternos e paternos, eu nunca quis usar esse livre arbítrio para mudar a relação que eu havia estabelecido com o feriado brasileiro mais esperado do ano.

O que eu lembro dos carnavais passados é de sempre ficar brava porque a programação da televisão era interrompida. Como eu o-d-i-a-v-a ter que ficar vendo aquelas interrupções dançantes, com trajes que sempre achei extravagantes demais e incompreensíveis demais. Todo mundo falava de sambar e de ir ver bloquinhos, enquanto eu achava injusto ganhar uns dias pra ficar em casa se em troca a gente era obrigado a ver uma programação furrepa na televisão.

Hoje a situação é um pouco diferente, mas não posso dizer que mudou radicalmente. Digamos que hoje o enredo e os temas de algumas das escolas despertam um pouco do meu interesse. Mas se você me perguntar quem é madrinha de bateria, qual a função das alas, qual escola é do Rio e qual é de São Paulo, bom, eu vou ficar devendo resposta. E olha que eu escrevi uns cinco textos - em linhas gerais - sobre Carnaval lá no estágio. Vejam só vocês a incoerência da garota.

Esse ano em que eu debuto em um jornal, claro que eu vou acabar sabendo qual é a escola campeã e tal. Mas vai ser só isso. Não tenho pretensões de eleger a escola de samba do meu coração, como já ouvi pessoas falando. Nem time do meu coração eu tenho. Eu "torço" pro São Paulo porque herdei o time do meu pai - e também porque ficava chato dizer que não torcia pra ninguém em uma época em que os jogos que predominavam nas quadras dos ensinos fundamental e médio eram futebol e queimada. Talvez se existissem times de queimada eu tivesse aquele que eu realmente apreciaria... Mas são apenas possibilidades jogadas em um universo que só faz expandir e nos revelar outros planetas... (sim, estou divagando, porque até pra falar que não curto o Carnaval me falta assunto pra fazer o post render, mas enfim).

Acontece que nunca senti a necessidade de saber de Carnaval. Eu não gostava, nenhum amigo próximo gostava e, os conhecidos que curtiam não compartilhavam o assunto a ponto de eu me empolgar.

E assim, dessa forma capenga, eu chego ao Carnaval 2017, que só me dá mais motivos para não apreciá-lo. Como pode isso da Globo, a única tevê aberta que cobre o Oscar, priorizar o Carnaval e deixar a gente perder a cena a la Miss Universo que rolou na entrega do prêmio de melhor filme? Como?????

Ok, eu até entendo todo esse discurso de que o Carnaval é nacional, que mobiliza todo o país, que essa atitude é, de certa forma, uma resistência a essa tendência de globalização. Ok, isso devia ser o suficiente pra priorizar o evento. (Espera, não que eu ache que a Globo levou em conta a cultura nacional pra julgar o que teria prioridade na grade, não é isso). Mas eu, logo eu, que nunca liguei pro Carnaval, me senti, assim, apunhalada, sabe?

E agora a vida tem a oportunidade perfeita para se vingar de mim por eu não valorizar o Carnaval. Afinal, enquanto eu espero dar três da tarde pra poder finalmente ver a cerimônia do Oscar, tenho que ver a única tevê aberta que cobre o evento. E qual é? Oras, a Globo. Que tá passando o quê? Desfile. Pois é, a vida é, digamos, sarcástica. O que mantém minha sanidade nessa hora é saber que existe um blog que eu não atualizo há um mês e que rascunhar um post sem sentido é uma ótima forma de fazer o tempo passar.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Panelas batidas seletivamente


Uma sociedade de memória curta
Que esquece suas mazelas,
Sua injustiça, suas lutas
Noticiário só se depois vier novela

Uma sociedade com memória seletiva
Se o caldo entorna pro seu lado
Busca-se uma alternativa
Se não, pra que ficar transtornado?

É criança pendurada na janela
É fome, é opressão, é morte
É cassetete e corpo estirado no chão

Mas por quem batem nossas panelas?
Quem nelas bate tão forte?
Quem é que as têm nas mãos?

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Algo está cambiando



Siempre hay algo más
Que a simple vista no se ve
VENEGAS, Julieta

Todos crescem, todos mudam. Essa bem que pode ser uma daquelas verdades universais. Porém, por mais universal que essa verdade pareça ser, a impressão é que o universo faz questão de que nós sejamos exceção. "A mudança está no outro, não em mim", é fácil se enganar com esse pensamento. 

Esquecemos, ou preferimos esquecer que a mudança é algo pessoal e constante. Não é só com o fulaninho que foi viajar, estudar fora etc. Quem fica consigo mesmo todos os dias, por mais que se observe bem, também está mudando. E o engraçado é que aquilo que antes fazia parte do que acreditávamos ser, e que agora nem lembramos mais, ainda permanece vivo na mente de outros alguéns.

Porém, por mais óbvia que essa nossa mudança seja para quem nos observa de tempos em tempos, ela é verdadeiramente chocante para nós. "Não, eu não mudei. Foi você quem mudou!". Afinal, essa vida diária com a gente mesmo tem lá suas consequências para a percepção, e assim nossa mudança nunca é aquela coisa abrupta que quem está fora observa com facilidade,

Na realidade, o nosso eu do ontem literal é, para nós, um gêmeo univitelino do nosso eu de hoje. Daí, quando nós damos conta das nossas mudanças, a base de comparação nunca é o ontem literal, mas o ontem figurado. É o passado, no sentido mais comum. E a constatação pura do rio de Heráclito.

E por mais linda que seja a singularidade do momento, a certeza de que ele é único - afinal, já cantava Lulu Santos que "nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia"-, o momento em que nos damos conta de que a não repetição da vida implica uma não repetição de nós mesmos, esse momento, meu amigo, é belo na teoria e inquietante na prática.

E agora, poderemos confiar em nós mesmos? Em nossos planos, decisões, desejos, motivações? E se o meu eu de amanhã for algo que eu não consiga aceitar? São as inquietações de se aceitar como ser mutante.

Mas nós aceitamos, embora seja uma aceitação velada e diária. Concordamos, cedemos e, de repente, ouvimos frases do tipo "você tá mudada" e a resposta automática que vem à mente é "não, não tô". Mas, enfim, se todo mundo muda, então acho que eu posso me permitir me perceber mudada.

Nos permitimos uma mudança a partir do olhar do outro e queremos, mas queremos renegar as transformações do eu a um estágio apenas físico. "Foi só o cabelo que eu cortei, nada demais", dizemos para poder pontuar as mudanças, contabilizá-las certinho para que não dê nada errado no nosso balancete depois.

Mas, mesmo com essas negativas, se deparar com seu eu interior antigo - seja nas páginas de um diário ou nos primeiros posts de um blog que te acompanha há longa data - é um verdadeiro soco no estômago. E não gostamos de socos, eles doem.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Crônica de quinta sobre um término hipotético


Foi inevitável: eles terminaram. Ela saiu da casa deixando os móveis, a coleção de xícaras de café e os sentimentos, todos empoeirados. Era seu dia de fazer faxina na casa, mas isso não importava mais. Ele ficou na sala mais chateado por ter que dar um jeito naquela bagunça do que na própria vida.

Ela virou a esquina, rumo ao ponto. O ônibus já estava vindo, ela havia checado no aplicativo quando estava no banheiro fazendo hora pra sair de vez da sua recente vida antiga.

Ele levantou da cadeira em que estivera sentando olhando um lixo feito de papel velho e pó empurrados para debaixo da estante de livros. "Inacreditável", disse. Havia visto ela empurrar o lixo ali pra baixo há 2 semanas, por isso, no seu dia de fazer faxina, ele ignorou. "Inacreditável!", disse novamente, agora balançando a cabeça em negativa. Até isso ela achava que era responsabilidade dele: o lixo que ela mesma esconde debaixo da estante. Definitivamente era o fim.

Ela subiu no ônibus menos de 5 minutos depois de sair de casa. Reparou que sua blusa tinha a mesma mancha que ela havia pedido pra que ele esfregasse com  um pouco mais de vigor na semana passada, no dia dele de ajeitar as coisas. Pelo visto, não havia feito. Agora, além de sair de casa, ela tinha que andar esculhambada pela rua, como quem não tem coragem de lavar a própria roupa com decência. Era o fim, estava claro.

E por conta desses detalhes, que em situações assim são verdadeiros desaforos, eles não se falaram mais. Um não ligou pro outro, nem mandaram mensagens pelo WhatsApp. Deixaram de se seguir nas redes sociais, mudaram o status de "em um relacionamento sério" para "solteiro" e seguiram suas vidas como quem tem muita coisa pra viver ainda pela frente. 

Ela desbloqueou o Instagram de vez e ele, idem. Quase três meses depois, o Instagram dela segue desbloqueado. Os dois começaram a usar a função Stories e cada um acompanha, a uma distância segura que é demarcada pelo término, a vida do outro. Ela começou a postar pequenos vídeos das coisas que via, mais para atualizá-lo sobre sua nova vida do que para jogar na cara dele que ela vivia  bem, obrigada.

Ele começou a postar vídeos com fundo musical das suas recentes descobertas no Spotify, coisa que antes não fazia, pois descobriam as músicas juntos. Mas isso foi antes desses três meses que se passaram, antes das brigas se intensificarem, antes do silêncio que se instalou, como se eles tivessem combinado de abrir o relacionamento e convidar a solidão. Foi em um antes que até parece ter sido em outra vida.

De nada adianta viver de passado, ela pensa com frequência. Mas, mesmo assim, não consegue deixar de clicar no círculo da foto de perfil dele no Instagram, não consegue deixar de acompanhar as descobertas musicais que ele faz. Virou ritual: antes de dormir, ela entra no perfil e vê vídeo a vídeo, sempre tomando cuidado de sair antes de terminar. Não quer que ele saiba que ela esteve ali, mesmo que haja dias em que bate aquela vontade de ver o vídeo até o fim.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Balanço das leituras de 2016

Todo começo de ano eu tenho vontade de ler mais. Na verdade, esse gás todo costuma chegar em novembro, quando a faculdade começa a dar aquela folga na rotina e eu tento superar o número de livros lidos no ano anterior. Eu fico com a esperança de ler horrores para compensar as procrastinações ao longo do ano. Nunca dá certo. Mas eu teimo em recomeçar o ano batendo o pé e fazendo tudo de novo. E por que esse ano seria diferente?

Escrevo esse post com a convicção de que esse ano eu vou arrebentar a boca do balão em termos de metas literárias (Deus, por favor, me ajuda nessa jornada). Mas sei que lá pra maio eu vou estar pedindo arrego - ou melhor, lutando para terminar um livro de menos de 200 páginas. A procrastinação é um vício, minha gente.

A vida é cruel e a danada tem seus ciclos. Daí a função desse post: dar aquela revigorada nas forças e aquele puxão de orelha. Quero ler esse post como se ele me dissesse: "Andressa, para de graça, termina o livro, caramba".

Agora, enquanto as expectativas estão altas, é hora de comemorar os feitos literários. E, esse ano, eu li bem mais que em todos os anos anteriores e pretendo seguir no ritmo até quando der. 

Pra variar, vi a retrospectiva de leitura que a Jéssica Carvalho do Extra Literário fez e divulgou lá no grupo do 30:MIN (em Prezi, meu Deus!) e é óbvio que eu quis fazer uma também. Só que uma combinação de inabilidade com Prezi e preguiça me fizeram correr pro Canva e fazer um bannerzinho mesmo. É o que temos para 2016, um ano que muita gente quer apagar da história. Então, esqueça isso de Prezi. Aqui a gente tem intenção, mas não é sempre que dá. Apreciemos:


Ao todo, li 24 livros; mas, depois de analisar melhor a lista de lidos de 2016, tirei informações bem úteis que valem a pena eu ressaltar aqui:


  • Percebi que, embora eu leia bastante livros nacionais - 10 de 24 -, eu ainda estou focando muito nos autores de língua inglesa (foram 6 livros de autores estadunidenses e 3 de ingleses). Fora desse eixo centralizador que perpassou minhas leituras em 2016, estão 1 livro de autor japonês, 1 de autor francês e 3 de autores colombianos. 
  • Em relação ao gênero, li apenas 7 livros escritos por mulheres (mais 2 escritos tanto por homem quanto por mulher); a maioria absoluta foi de autores masculinos. Por conta disso, pretendo aderir ao Leia Mulheres e aumentar meu número de autoras lidas neste ano - quem sabe não rola de eu ir em um dos encontros de São Paulo? São possibilidades).
  • Meu apego ao livro físico não é fase, é coisa minha mesmo. Esse ano, a goleada foi de 22x2.
  • Em termos de páginas lidas, esse ano fiquei por volta das 5 mil.

Eis a lista de lidos (qualquer dúvida, entrar no meu perfil no Skoob - separei bonitinho por ano lá):


Não sou adepta do Good Reads, mas a vida é cheia de surpresas, não é mesmo? Gosto bastante do Skoob, mas quero testar a concorrência. Quem sabe eu faço um test drive esse ano... E quem sabe eu não leio mais esse ano? Afinal, ler tem sido um hábito que me possibilitou inúmeras descobertas e ampliou meus horizontes. Nada mais justo que ampliar a cada ano o espaço para os livros na minha vida . Afinal, os obstáculos estão aí e quem não é viciado em procrastinar os enfrenta muito bem, obrigada.

Fica aí minha conclusão clichê do meu "2016 literário".

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Devaneios de uma adolescente... (VII)

CAPÍTULO 7 - O que fica de um, dois, três olhares...

Cabe ficar em vossas mentes o grau de importância de cada personagem, e isso se pode perceber ao analisarem a ordem na qual são citados. Primeiro, falo de minha mãe, breve, rápido. À Lizzie dedico um capítulo inteiro e muitos outros que virão. Os próximos personagens vão agora ser apresentados a vocês, deixe-me apenas situá-los no tempo e no espaço. Isso nos leva a uma tarde...

Sim, uma tarde enigmática, o céu era um misto de azul e cinza, não se podia perceber ao certo se faria frio ou calor. Lizzie me chamou e, como prometera, iria me apresentar ao seu rol de amigos. Chegamos na casa dela, e lá havia meia dúzia de pessoas, mas não ligue pra elas, importe-se apenas com três. Uma delas era Lívia, uma garota que olhava como ninguém. Ela me examinou de cima a baixo com aquele olhar de cobra a espreitar o ratinho no canto do vidro. Redobrou os olhares quando percebeu que o ratinho não se intimidava e ria, saltitava como num desafio à morte.

Lembre-se de Lucas também, um garoto de olhos fugitivos, mãos nos bolsos e pensamentos longes, noutras galáxias, noutros mundos... Quando encarava alguém parecia olhar dentro da alma, ria como se soubesse o segredo mais secreto e quisesse atiçar sua curiosidade com um eterno "não te conto, não te conto"... Também havia o Carlos, o inteligente-galã. Era convencido, mas deixo registrado que sim, ele podia se gabar, ele estava mesmo com a bola toda. Sabia tocar, o que dizer e como olhar para ter qualquer uma nas mãos, conciliava seus conhecimentos com um modo inovador de conquistar, de prender, de atiçar... Opostos sim, mas eram grandes amigos.

Recebi muitos olhares naquele dia, três valem ser retratados: um de cobra, um vasculhador e outro, ah você entendeu! O último eu aceitei na hora, mas desprezo agora! O último me desafiava a um jogo. Será que eu devia topar? Topei. Hoje, a resposta que daria àquele olhar seria muito, muito diferente!