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quarta-feira, 31 de março de 2010

Datas para se lembrar...


Hoje fazem 46 anos do golpe militar. Data essa que muitos não esquecerão; data que não poderá fugir de suas mentes, pois ditava um novo modo de se pensar o Brasil. Mesmo sabendo que a ditadura em si se deu em 1968, esse ano de 1964 também é histórico, também é significativo.

Hoje, por coincidência, (quem saberá?) também é uma data importante para mim. Hoje é aquele dia em que se ouve "Parabéns pra você nesta data querida/ Muitas felicidades, muitos anos de vida..." Sim, hoje é um dia festivo, alegre. Aniversários têm essa capacidade de nos fazer analisar nossas vidas de um modo mais maduro, mesmo que seja por um breve espaço de tempo. E a minha maneira de ver o mundo de forma madura é pensar na história, no que aconteceu e que teima em fugir da memória (ainda mais quando essa memória não é feita de vivência, mas sim de relatos, leituras...)

Infelizmente, nós brasileiros, temos exemplos históricos que frustram nossas expectativas. 

Lembrar de Canudos, para mim, é ver uma oportunidade perdida, uma chance escapar das
mãos mesmo quando você as junta o mais que pode para que isso não aconteça. Também me lembra brutalidade. Brutalidade ante o pedido de socorro humano para se ter uma vida melhor, uma vida digna... A Ditadura me lembra o quão baixo o homem pode descer em busca de uma forma de colocar sua opinião como absoluta. Uma forma de ver suas vontades alcançadas a qualquer preço, sem considerar a opinião do resto da população...

Enfim, não quero lembrar de 31 de março, em todos os anos que virão, como uma simples data de aniversário. Quero lembrar desse dia (mesmo tendo traçado um futuro desagradável para muitos do nosso país) como um dia em que se iniciou uma situação que faria o Brasil reagir e fazer valer a Democracia, mesmo que alguns anos depois. Há quem diga que onze anos não é nada, historicamente falando, mas...
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Nós não somos como a história, que tem todo o tempo à seu dispor... Então, aprendemos a valorizar o tempo, porque aprendemos que:

11 anos fazem a diferença para quem viveu num regime militar;
1 ano faz a diferença para quem repetiu na escola;
1 mês faz toda a diferença para uma mãe que perdeu seu filho por ter nascido antes do tempo;
1 semana é importante para um editor de um jornal semanal;
1 dia é importante quando se comemoram datas;
1 hora é extremamente importante para os amantes apaixonados;
1 minuto representa muito para alguém que acabou de perder o trem;
1 segundo é eterno para quem teve sua vida salva de um atropelamento.

terça-feira, 23 de março de 2010

Palavras que não saem de mim...


A vida sempre surpreendente: no topo do mundo ou nas profundezas do desespero? Onde quer que estejamos, sempre há algo novo, à espreita, esperando para ser aprendido. Há momentos em que nos sentimos no topo do mundo, geralmente quando nos damos conta do quão afortunados somos. 

Noutros, porém, tudo aquilo que tem a capacidade de frustrar nossos projetos e esperanças surge, de mistura, e nos leva à sensação de abandono, desamparo...

Choramos por nós mesmos quando isso acontece. Os problemas do restante do mundo parecem coisas ínfimas, insignificantes e, quando caímos em nós, refletimos sobre a nossa capacidade humana de dar a mão ao egoísmo e sermos guiados no escuro por ele. O bom é que sempre há algo capaz de nos mostrar a verdade, sem enfeites, sem rasgos. A verdade pela verdade. No meu caso são palavras. 

E, mesmo que existam imagens e ações que falem mais que todas elas juntas, eu sei que sempre ficarei imóvel quando as palavras certas me alcançarem. E sei também que eu aprenderei com elas, aprenderei a ser alguém melhor e a perceber o valor das coisas que tenho.


"Amanhã eu fico triste... amanhã!
Hoje não... Hoje fico alegre!
E todos os dias, por mais amargos
que sejam, eu digo:
Amanhã eu fico triste, hoje não..."
"Poema encontrado na parede de um dos dormitórios de crianças do campo de extermínio nazista de Auschwitz."

Essas são palavras que não sairão de mim, por mais que eu tente, por mais que me façam ver a verdade contida nelas em contraste com as condições nas quais foram escritas... elas permanecerão em mim.
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E em você? Bem, isso somente uma pessoa pode responder.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Um bolo e uma reflexão...

Entrei no ônibus com uma decisão. Seria alguma pessoa presente ali, naquela aglomeração humana, que receberia o meu triste símbolo de despedida. E foi exatamente o que aconteceu. Um homem se ofereceu para segurar meu embrulho e o ganhou de presente. Ele olhou para mim inúmeras vezes, com olhares perdidos; deve ter pensado que eu estava louca. E ele tinha razão.
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Tudo começou com uma indicação. Fui indicada a ir, todos os dias, na mesma hora e no mesmo lugar por quatro semanas seguidas. Era um curso para complementar meu currículo. E essa foi a minha rotina fiel até hoje. Muitas coisas aprendi, não somente coisas relacionadas ao propósito do curso, porque a gente nunca aprende só isso.

Eu devia levar um bolo. De chocolate (que, a propósito, eu 'não gosto muito' - eufemismo para "odeio"). Muitas coisas haviam ali, naquele endereço que eu segui religiosamente naquelas quatro semanas. Eram deliciosas; porém não havia uma faca. Uma faca para cortar um bolo. Um bolo de chocolate. À propósito, um bolo de chocolate que ficou intocado.

A despedida me pegou. Foi além do que eu esperava, o apego àquela realidade que eu sabia que seria momentânea foi grande demais. Sai de lá com o bolo. Mas sai também com vontade de me livrar dele. Eu passara ali, por aquele caminho, exatas 19 vezes, em direção ao ponto de ônibus. Era a vigésima vez. E a última também. Pensei em dar o bolo para alguém na rua, "alguém que precisasse". Ah, você entendeu! Mas não encontrei, não no vigésimo e último dia. O bolo pesava, estava com os braços doloridos. Eram seis quadras. Seis quadras sem encontrar "alguém que precisasse": ah! que ironia...

Cheguei ao ponto e o ônibus não demorou muito, passei pela catraca e, em menos de dois minutos o bolo era do homem que se ofereceu para segurá-lo. Ele, ironicamente, segurou e, provavelmente, a essa hora, já deve ter comido com sua esposa e filhos ou com seus pais, eu não sei disso pois não o conhecia.

Porém sei que, meu olhar estava distante e eu encontrei muitas pessoas que poderiam merecer aquele bolo. Uma moça com aparência de quem tinha andado o dia todo atrás de emprego; um homem que vende doces em ônibus, fechando os olhos com expressão de cansaço; uma família vendendo serviços gerais no farol e muitas outras que você, provavelmente já deve ter visto inúmeras vezes.

Eu precisei entregar a alguém o símbolo de despedida, e entreguei. Posso ter entregado à pessoa errada, mas não saberei porque não conheço nada a respeito do receptor do bolo. Tenho apenas suposições, à deriva, em minha mente. E sei também que se, não só eu, mas também as pessoas que não gostam muito de bolo de chocolate (só pra começar) fizessem isso uma vez a cada quatro semanas, eu não posso afirmar que se acabaria com a fome do mundo (claro que não! Não sou tão tola assim!) ,mas, pelo menos essas pessoas poderiam ter na memória a imagem de uma pessoa, desconhecida, saindo feliz de um ônibus lotado em direção a sua casa com um bolo nas mãos e um sorriso agradecido no olhar.
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É, eu fiquei olhando o homem atravessar a rua...

segunda-feira, 8 de março de 2010

Pra equilibrar o universo...


"Tudo acontece para manter o equilíbrio do universo", ouvi uma vez. Nunca fui de acreditar em frases vomitadas ao vento e totalmente dependentes do acaso para fazer sentido. Mas, em minha vida, por mais recente que seja, essas palavras vêm fazendo sentido há algum tempo.

Por causa disso eu receio a felicidade. Não me refiro a um leve sorriso dado em um momento suportável. Me refiro àquele dia em que tudo parece ter dado certo e no qual rimos até doer a barriga. Dias assim, ultimamente, têm me assustado demais, pois, na mesma proporção, experimento o mais desagradável dos dias. Enquanto uma parte do dia parece correr em momentos divertidos, a outra rasteja em decepção, em mágoa, em momentos que eu gostaria de deletar da memória. E hoje, infelizmente, foi mais um desses dias.

O mais desagradável é que, por mais que esse 'fenômeno', digamos assim, ocorra de novo e de novo em minha vida, eu nunca estou fortemente armada para o que ele possa me reservar.

E, o mais engraçado (se é que posso usar essa expressão) é que toda vez que isso acontece, me lembro dessa frase "Tudo acontece para o equilíbrio do universo"...

Não consigo ansiar por respostas a perguntas como "Será que o universo está conspirando contra mim?", pois elas me parecem sem sentido... Que contradição!

Espero que isso passe logo e, não, isso não é invenção minha, é só mais um dos momentos da minha vida que estou tentando entender...
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Mas há quem diga que viver ultrapassa todo entendimento, então...

sexta-feira, 5 de março de 2010

Fugindo à regra...


"A minha vida está de pernas pro ar. Tudo está fugindo do meu controle. Ah, doce ilusão minha! Nunca tive controle algum, sempre fui do tipo que faz de tudo para agradar. Na escola, a primeira da classe, em casa, uma filha perfeita... Enfim, esse era meu mudo. Mas insistem em refazer os planos que eu, pacientemente durante anos, arquitetei pra minha vida. Bossais! Como ousam alcançar tão elevado grau de prepotência julgando minhas escolhas como coisas fúteis? Como ousam? Estou cansada de tudo isso! Estou mesmo cansada, no sentido mais literal possível. Agora, tudo o que eu queria era me trancar sozinha e, ao menos uma vez na vida, ter minha privacidade respeitada.

Por que será que é tão complicado assim entender que o outro também tem sentimentos, sonhos, desejos a realizar? Por quê? Será que o que separa um ser humano do outro é um abismo tão profundo assim? É tão difícil perceber que o outro está esgotado, sem forças?

Estou cansada de todos os dias tentar, em vão, impor minha opinião. Impor? Impor, não, o que faço é suplicar para que me ouçam. E por que não me ouvem se estou rouca de tanto gritar? Minhas ações gritam, minhas expressões gritam. Eu não quero fugir do que sou e não quero que me obriguem a fazer isso. Mas tenho plena consciência de que essa minhas táticas para que isso não aconteça têm, frequentemente, falhado. E eu não quero perder a guerra, não agora. Apostei todas as minhas fichas em mim, não posso perder!" 

Relatos desesperados que não ouvimos...
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Por que não sabemos escutar?