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quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Fazer caber

Reprodução: Pexels

Tento me encaixar, demonstrar um pouco do que está dentro de mim. Mas há coisas que sussurram esconderijos e, por isso, as deixo aqui, dentro, escondidas, às vezes de mim mesma. Quando me lembro de procurá-las, o processo até achá-las é longo, demanda paciência.

Mas sigo tentando me fazer caber nos espaços pelos quais escolhi vagar. Não raramente me canso. É exaustivo se dobrar, entrar, sair, entrar de novo em outra posição com a única finalidade de se fazer caber ali. 

Tem vezes em que desisto, paro um pouco, sentada na borda de caixas pequenas demais. Mas qualquer brecha ou promessa nova de ampliar o espaço ao qual preciso me moldar me dá novo fôlego para tentar. Por isso insisto e finjo não reparar nos roxos que esse jogo de encaixar me deixa na pele.

Então finjo que basta, mas a perna formiga, o braço tem cãimbras. Não é meu lugar. Por isso me levanto, desistindo. E então não existe mais caixa. Estou aqui tentando apenas ficar confortável. Mas agora parece que sou exigente, que não aceito caixas... entenda, não é isso.

Eu apenas desisti. Não é que tenha chegado ao limite ou esgotado minhas forças. Apenas quis levantar. Dor e desconforto não faziam sentido, nunca fizeram.

Agora sigo em pé, a caixa aberta ao lado, vazia. Te olho. Quero saber se vai me ajudar a fechá-la e fazer dela um lugar de descanso onde podemos sentar juntos ou se vai permanecer encarando o vazio de uma caixa que já não serve para conter. 

Espero. Decisões levam tempo, então espero. 

Espero consciente do tempo que pode levar, mas também sabendo que, quando o pôr do sol se instaurar, vou me dirigir a um lugar onde possa sentar - seja ele uma caixa fechada ou outro canto qualquer.

terça-feira, 22 de outubro de 2019