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sábado, 28 de janeiro de 2012

Sua Majestade, o Chinelo...


Maior conhecedor das ruas desta cidade não há. Desde que fora feito para cumprir uma função de importância ímpar na vida de pessoas tão diferentes, ele tem se resignado a ser pisado, suportando sobre si o peso das existências vãs. Futilidades o obrigavam a se mascarar em várias formas que não levavam em conta apenas o conforto de pés pecadores, mas as exigências e frescuras de endinheirados. Bah!, se resignava por falta de opção. Ele por si gritaria, mas este surto que rompe com a lógica não lhe era permitido no mundo real. Gritava, então, na ficção:

—Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh...

E xingava no virtual:

—@'*%#**$¨@'

Se expressava e via seus sentimentos materializados nos olhos de nuvens distantes:

—Chove hoje.

É, chove hoje. Chuva de raiva, ódio, rancor e decepção. Seres superiores?, zombava em pensamento. Não. Seres achistas apenas. Que acham, não têm certeza. Acham que vassouras são mudas, que elas não falam. Acham que sapatos pisados, seus parentes próximos, suportam tudo com quietude de matéria prima morta. Acham que chuva é fenômeno meteorológico e nada mais. Mas estão errados no tempo presente, perfeita e imperfeitamente errados no pretérito e estarão errados no mais distante dos futuros.

Chuvas são sentimentos materializados da realeza usurpada da terra. E com a palavra Sua Majestade, o Chinelo.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Cinco minutos...



Ou 'Estatísticas sobre morte por atropelamento em avenidas..."

O relógio despertara e ela disse, sonolenta:

—Mais dez minutos.

Ela já sabia, cinco minutos não bastariam. Dormia tão bem quando, de repente, resolve pensar. O resultado foi um pensamento também sonolento, mas racional.

'Quanto tempo tem passado?'... Rapidamente lhe veio à mente que o tempo necessário, ou melhor, suficiente e indispensável para um bom descanso sempre nos parece perfeito, mas quando nos damos conta ele acelerou e segue a 100 Km/h ultrapassando nossas expectativas... relatividades. Olhou o relógio e comprovou que estava mais que certa, estava atrasada: 7h30!

Devia estar no ponto as 7h50, a caminhada até lá consumia 20 minutos. Definitivamente, estava atrasada.
Levantou-se num jato. 'Quem sabe avançar o horário do relógio?'. Não, isso nunca funcionava, pois sempre pensava na vantagem temporal que tinha com esse método e o gastava dormindo. Sempre atrasada. Mas nunca tanto assim. Escovou os dentes, lavou o rosto, colocou a roupa, prendeu o cabelo e não havia tempo pra base, lápis, batom ou blush. Engoliu café preto. No espelho uma constatação: ainda com cara de sono. Mas também, tudo tão rápido. Seu rosto mal abandonara a expressão sonolenta para acolher a de pressa, mas ela tinha que ir.

Saiu de casa, encostou a porta. A chave. 'A chave?'. A bolsa sempre guarda a chave. 'A bolsa?'. Entrou correndo, pegou a bolsa (esses segundos poderiam lhe custar um ônibus com horário pra passar) e, dentro dela a chave. Trancou a porta. 7h45. Vinte minutos ainda a separavam do ponto. 'Meu Deus', pensou. Chegaria ao ponto as 8h05, o ônibus passava de 10 em 10 minutos. Pegaria o de 8h10. Definitivamente 20 minutos de atraso eram inaceitáveis. 'Não, bem mais!', o trânsito aumentava conforme o horário passava.
Continuou apressando o passo. Apressando o passo e pensando na passarela que bem poderia lhe consumir uns cinco minutos todos os dias. 'Um dia só não faz mal... Se eu conseguisse pegar o das 8h...'
.
Não. Ela não conseguiria.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Essência...



Tem-se algo dentro de si sempre de bom,
alguma coisa pela qual se vale viver
e fazer o sacrifício de respirar, de conviver
de existir para todos em alto e bom som...

E se essa coisa não vieres tu a saber
conforma-te com teu futuro esquecimento,
mas aprenda algo de bom desse momento
para que ele venha de algo te valer...

E se não quiseres compreender
os caminhos que a tua vida toma
e os mares pelos quais ela navega

Resigna-te em fazer-se entender
que a tua vida é um estado em coma.
E que te vá para o diabo que o carrega...

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Wonderful life...



Constatação: há músicas com as quais você não pode treinar tradução porque se perde analisando o eu lírico...

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Metalinguagem...


Escrever sobre escrever e sobre como escrever, sobre o quê escrever... Simplesmente escrever sobre isso que tanto me custa, que tanto toma de mim...