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sábado, 2 de abril de 2011

Bem-vindos, esse é o Brasil.




Não precisa perguntar, eu confesso... houve sim, na minha vida, um dia em que eu acreditei que as coisas funcionavam nesse país.

Foi no ano passado.

Me convidaram para participar de um campeonato e eu aceitei. Calma, calma... Claro, eu tinha as minhas obrigações, as minhas 'responsabilidades', uma delas até se chamava trabalho... Por que eu aceitei, então? Ah, porque eu quis aceitar. Nesse momento em que aceitei eu queria que todo o resto se danasse... É horrível deixar de viver coisas que você vai guardar sempre consigo por causa dessas responsabilidades que, à propósito, nos são impostas para continuar vivendo. E se fosse para aceitar hoje de novo, eu aceitaria, ponto final, caso esclarecido.

Então, vamos pular já pro dia em questão. Ah, era um campeonato de xadrez...

Eu tinha treinado muito na véspera e me sentia insegura ainda. Coloquei o celular para despertar e eu não me lembro a razão mas ele não tocou... Estava atrasada e sequer sabia (porque eu estava dormindo). De repente, o telefone toca (o telefone, não o celular), eu me levanto bem relaxada 'não é a hora ainda', pensei... A voz do outro lado estava desesperada para falar comigo:

- Então, a sua equipe está te esperando aqui, o ônibus acabou de chegar e sai em 10 minutos. Vem pra cá!

(Pausa pra alguns detalhes: o telefone era sem fio, então eu corri com ele pra ver a hora no microondas; o lugar em que o ônibus estava era uns 20 minutos longe da minha casa; conclusão: não daria mesmo pra chegar lá. A sorte - vamos chamar de sorte nesse caso em especial - é que eu trabalhava e tinha grana pra ir de ônibus.)

- Não dá tempo, eu acabei de acordar...

- Você tem que ir! Sem você sua equipe será desclassificada.

(Pausa 2: Preciso dizer que essa é uma frase chave? Nessa hora eu não só me senti pressionada mas também senti que era minha obrigação salvar minha equipe... Me senti uma supergirl... Eu iria correr contra o tempo e contra o desconhecido - eu não sabia chegar no lugar do campeonato - e eu venceria tudo. Nossa! Que frase poderosa essa, rs...)

- Já estou indo.

Peguei minha roupa, escovei meus dentes, engoli pão e café com leite, peguei uma bolsa-nada-a-ver-com-a-roupa e fui salvar minha equipe. Fiz muitos amigos no ponto de ônibus com minha história. 'Você consegue chegar lá sim, pega ônibus tal, desce no lugar tal e boa sorte no campeonato', 'Obrigada' (eu sempre tão educada!). Entrei no ônibus.

(Pausa 3: Eu fiquei maluca a cada parada do ônibus, quase surtei com o trânsito, fiquei imaginando 'e se eu tivesse ido andando', - e mais coisas imbecis- porque, não se esqueça, eu tinha que salvar minha equipe! Ah, sem contar a tortura de imaginar se me deixariam passar pelo portão com só um simples papelzinho e meu RG).

Cheguei lá. Entrei numa boa. Ninguém nem percebeu que eu tinha chegado, o campeonato só começou duas horas depois. De 5 jogadas eu só ganhei 1 e, mesmo assim ganhamos medalha de prata (minha equipe foi bem melhor que eu, rs).

Sabe, eu poderia ter odiado tudo isso, mas eu até gostei. Nessas duas horas conversei com um monte de gente que eu via todo dia e que nunca tinha parado pra falar, fiquei coleguinha de uma menina muito louca (parecia euzinha naquela idade, nas maneiras), conversei, me diverti... eu só não salvei minha equipe. Ela me salvou, rsrs.
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(Pausa 4: Fiquei sabendo depois que éramos uma das poucas equipes completas. E todas jogaram sem problemas. Esse é o nosso país! - Crítica ou não, foi um dos melhores dias da minha vida. Esse é o nosso país, rs...)
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P.s: Nada de verde-amarelo, minha cor preferida é azul mesmo.

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