Páginas

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Diários

Reprodução/Pixabay
Sempre vi meus diários como uma forma de me retratar nas minhas diferentes fases. Toda vez que me obrigava a reservar um tempo para sentar e escrever, era comum me motivar com o argumento de que aqueles escritos me ajudariam a lembrar do que eu havia sido. Pensamentos, medos, acontecimentos, planos... isso tudo e mais um pouco sempre teve seu espaço reservado naquelas páginas. Por isso, foi bem traumático quando todos eles foram jogados fora.

Durante um tempo meus pais fizeram um pequeno teatro. Segundo eles, aquela velha caixa de papelão cheia de cadernos do ensino médio eram desnecessárias, ocupavam muito espaço e acabaram indo pro lixo por causa disso. Eu fiquei fora de mim quando soube e nós brigamos por dias, até que a minha mãe acabou confessando o real motivo de tudo ter sido jogado fora: eles haviam encontrado meus diários.

Antes mesmo de ter um diário propriamente dito, eu escrevia em folhas avulsas algumas cartas para os menininhos que eu gostava na escola. Ou então escrevia uma ou duas frases sobre como gostava deles na minha agenda. Mas, na minha família, a privacidade sempre foi um problema e meus pais sempre encontravam o que eu escrevia e até hoje me fazem lembrar de uma das cartas que escrevi para um tal de Caio declarando todo meu amor no auge dos meus 7 anos.

Por isso, quando minha mãe finalmente confessou que haviam encontrado meus diários, eu não tive dúvidas: eles tinham lido. Eu me lembro de me sentir petrificada porque nos meus textos eu era totalmente aberta com o que eu pensava e escrevia sem reservas. Depois do choque inicial, eu já estava enumerando mentalmente os textos que não poderiam nunca ter sido lidos, quando minha mãe explicou como tudo tinha acontecido.

A intenção não era jogar nada fora, já que ela queria apenas organizar as minhas coisas. Mas quando ela achou os cadernos, começou a ler e ficou horrorizada com o que eu havia escrito sobre o meu pai. Na adolescência, meu pai e eu sempre brigávamos e eu extravasava toda a raiva das discussões que eu nunca vencia lá nos diários. Minha mãe mostrou pro meu pai e ele acabou achando um texto onde eu falava sobre ela.

Nessa hora, minha mãe disse apenas que escolheu não ler porque não teria aguentado saber o que eu pensava dela, depois de eu ter escrito coisas tão horríveis sobre o meu pai. E, num acordo velado, todos decidiram jogar a caixa inteira fora.

Na época, minha reação foi bem egoísta e lembro de ter me sentido punida por me expressar, de forma sigilosa, sobre as coisas que eu pensava. E óbvio, eu achava a atitude deles muito errada. Por medo, demorei a voltar a escrever. E, quando escrevia, me autocensurava por receio de ser pega. E foi aí que meus diários ganharam um tom mais reflexivo e menos "julgador". Agora posso entender a reação dos meus pais, mas a falta que aqueles diários me fazem é sentida constantemente.

Apesar de ter escrito pouco desde 2012, que foi quando retomei a escrita em diário, vejo como os registros que fiz me ajudaram a tomar decisões importantes na minha vida. Hoje meu diário voltou a ser meu melhor amigo. Escrevo sem reservas e naquelas páginas sinto liberdade para falar sobre o que mais me aflige e também para refletir sobre os rumos que quero dar para a minha vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário